Faltando exatamente um dia para que se inicie a I Plenária da Via Campesina - Brasil, é que consigo confirmar minha ida, estou indo com uma dupla responsabilidade: representar o movimento estudantil da UEMA e fornecer um relatório que por hora se faz lido em partes neste texto.O evento aconteceu, entre os dias 27 a 30 de novembro, na Arquidiocese Dom Fernando, um centro de estudos muito arborizado e com ares de semi-internato, no coração de Goiânia.
Nossa chegada se dá às dez da manhã de segunda-feira e logo somos remanejados para o cadastramento e alojamentos; viajam comigo varias figuras e representantes de movimentos sociais entre eles: MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), PJR (Pastoral da Juventude Rural) MMC (Movimento de Mulheres Camponesas) CPT (Comissão Pastoral da Terra) e lógico MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), entre outros. Todos ali com o mesmo o intuito: discutir o avanço do agronegocio sobre a soberania alimentar dos povos e debater um projeto alternativo para o Brasil no que diz respeito a cultura, educação e renda. Alem disso discutir também as propostas sobre a compreensão sócio política que os trabalhadores devem ter em relação a mais nova tendência que se estabelece nas questões energética e do campo ,ou seja : BIODIESEL e as mudanças na matriz .
Ao que parece se inicia agora uma nova etapa no modelo produção de energia e o Brasil passa a ser olhado com ambição por parte de grandes empresas estrangeiras que já compram e especulam terras devolutas. Mais uma vez, como há mais de 500 anos, volta o Brasil a ser considerado mero fornecedor de matéria-prima. É a chamada “vocação agrícola”.
Outras discussões foram feitas em uma semana de encontro, palestras, mesas redondas e grupos de comunicação. Entre elas eu poderia apontar quatro: transposição do Rio São Francisco, construção de inúmeras hidrelétricas nos rios Madeira e Tocantins, soberania energética dos povos na América Latina e juventude camponesa. Transcorro neste texto um breve relato de algumas conclusões feitas em Goiânia, com a participação de economistas, agrônomos, historiadores, sociólogos, antropólogos, trabalhadores rurais, lutadores e lutadoras do Brasil todo, que não se curvam frente às dificuldades e preferem resistir a esse modelo de sistema neoliberal que por hora vem se estabelecendo na cidade e no campo .
Um dos temas mais gerais e por conseqüência bem discutido é a participação da juventude na criação de projetos que diagnostiquem e melhorem a condição do jovem no campo para que este não presise deixar o setor rural e tenha que ir para as cidades virar mera mão de obra barata ou mesmo entrar na marginalidade.Conclui-se então que é preciso fazer com que este jovem fique no seu meio rural e estude para ajudar sustentavelmente mais esse meio. Coisa que infelizmente não vem acontecendo devido a crescente lógica do agro negocio que por vias tortas contribui para a expulsão do trabalhador do campo. Este modelo “agrocapitalizador” introduz pesadas perdas ao camponês brasileiro devido ao seu modelo de competição voltado a grande produção e as exportações. Essas perdas se concretizam através do crescimento do subemprego das massas populares e na concentração de renda exorbitante por parte de umas poucas empresas, diga-se, estrangeiras.Com isso a nível macroeconômico perde o país todo com a fuga de divisas e com a desnacionalização de suas riquezas. Ex: o mercado de temperos, no Brasil, já é quase 100% estrangeiro.
Desde a década de trinta se cria a ideologia de que o morador do campo é preguiçoso e atrasado (vide o Jeca Tatu e Mazzaropi) sempre com seu cigarrinho de palha na boca , é analfabeto e não dispõe de recursos para gerir sua roça. Não existia ainda a idéia do jovem do campo e o conceito de “agricultura moderna” que se estabelecia desconsiderava acintosamente o pequeno agricultor e que, somente grandes empresas poderiam abastecer o mercado. Em decorrência disso uma sensível evasão para as grandes cidades causa enormes prejuízos sociais para o país. Ex: aumento da violência e a favelizaçao das cidades.
Algumas questões foram levantadas e merecerem atenção da Plenária: Por que não avança a reforma agrária? Por que há impunidade com relação aos crimes ambientais? Por que a omissão consentida crescente dos governos perante a desigualdade social? Por que essa campanha valorizando o agronegocio burguês e destratando o campesinato e o produtor familiar? Por que é tão fácil a apropriação privada das terras devolutas do país pelo grande capital nacional e estrangeiro?
Conclui-se que por detrás das ações governamentais e da capitulação dos governos do país em relação aos interesses das empresas transnacionais e dos bancos está a política neoliberal do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização Mundial do Comercio (OMC), e do Banco Mundial. Todas as ações desses organismos internacionais convergem para a afirmação dos interesses dos grandes capitais, e, em particular, aqueles que tem origem nos EUA, facilitando a concretização do império estadunidense.
Apontou-se também a divida externa brasileira, como produto histórico dos interesses das grandes empresas capitalistas no Brasil, criando um “fundamentalismo de mercado” negando, como principio, a equanidade e a justiça social, uma vez que caberá ao mercado premiar os bons e castigar os maus (sic).
O caráter entreguista e o absoluto desprezo que as classes dominantes nutrem pelo meio ambiente pelos camponeses e assalariados, pela saúde publica, pela soberania alimentar e pela afirmação do Brasil como nação soberana impede a afirmação da identidade nacional e da auto-estima como povo.
As verdades que nos tentam incutir, que querem nos fazer acreditar, são verdades de um mundo falso. Necessitamos rejeitar esse mundo que sentimos que está equivocado. Rejeitar esse mundo que sentimos ser negativo.Nossa negação é uma recusa aceitar a inevitabilidade da desigualdade social. Nossa negação é uma recusa a aceitar a inevitabilidade do desaparecimento do campesinato no Brasil e em todo mundo. Para tanto necessitamos construir uma proposta alternativa de desenvolvimento rural que respeite a cultura dos povos e que não coloque o homem a serviço do dinheiro, mas a riqueza a serviço do homem.
Finalmente conclui-se que haverá lutas duríssimas nos próximos anos graças a essa nova fase agrária e agrícola no Brasil, onde o projeto do Capital não só envolve os latifundiários, mas também uma aliança entre o capital financeiro, investidores e as transnacionais.Inclusive relatórios do próprio Banco Mundial apontam esse tipo de modelo (neoliberal) no campo, como criador de exclusão e divida social entre as massas populares e o agronegocio.
Há ainda o grave problema dos transgenicos.Não se sabe ao certo ainda que tipos de conseqüências podem vir a aparecer com o consumo desses alimentos que são produzidos a partir do conhecimento da biotecnologia para cruzar vegetais e animais, que não se cruzam na natureza (vide vaca louca).
Necessário se faz entender que qualquer modelo de agricultura deve ser voltado para as necessidades da população e não das empresas.
*Carlos Leen é estudante de Historia. carlosleen@hotmail.com
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
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